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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A Pedra da Morte

A Pedra da Morte

O sacerdote budista Genno, após uma viagem cansativa, veio para o pântano de Nasu e estava prestes a descansar sob a sombra de uma grande rocha, quando um espírito de repente apareceu e disse: “Não descanse sob esta pedra. Esta é a Pedra da Morte. Homens, pássaros e animais morrem por simplesmente tocá-la!
Esses avisos misteriosos naturalmente despertaram a curiosidade de Genno, e ele pediu que o espírito lhe fizesse o favor de contar a história da Pedra da Morte.
Assim, o espírito começou: “Há muito tempo atrás, havia uma bela menina que vivia na Corte do Japão. Ela era tão encantadora que foi chamada de Joia-Dama. Sua sabedoria igualava à sua beleza, pois ela compreendia a sabedoria budista e os clássicos do confucionismo, a ciência e a poesia chinesas”.

“Tão docemente pela natureza e pela arte enfeitada.
Pelo coração do monarca ela foi rapidamente abraçada”.

Uma noite,” prosseguiu o espírito, “o Mikado deu uma grande festa no Palácio do Verão, e lá ele reuniu a inteligência, a sabedoria e a beleza da terra. Foi um encontro maravilhoso, mas enquanto os convivas comiam e bebiam, acompanhados pelo som de música suave, a escuridão de apoderou do grande salão. Nuvens negras varreram o céu, e nenhuma estrela podia ser vista. Enquanto os convidados foram tomados pelo medo, um misterioso vento surgiu. Ele soprou pelo Palácio do Verão, apagando todas as luzes. A escuridão completa produziu um estado de pânico, e durante o tumulto alguém gritou ‘uma luz, uma luz!’

“Vê! Saído da pintura da Joia-Dama
desponta uma brilhante estranha chama!
Ela cresce, ela espalha, ela preenche as paredes da realeza,
As telas pintadas, os painéis de grande riqueza.
Antes o pálido e invisível tecido da noite,
agora cintila como em plena luz da lua”.

Nessa mesma hora o Mikado adoeceu”, continuou o espírito. “Ele ficou tão mal que enviaram o Mago da Corte, e esta digna alma rapidamente verificou a causa do mal de Sua Majestade. Ele afirmou, com muita suavidade, que a Joia-Dama era uma prostituta e um espírito maligno, ‘que, com traiçoeira arte, o Estado a devastar, cativa o teu coração’”.
As palavras do Mago viraram o coração do Mikado contra a Joia-Dama. Quando essa feiticeira foi rejeitada, ela retomou à sua forma original, a de uma raposa, e fugiu sobre esta pedra para o pântano de Nasu”.
O sacerdote olhou para o espírito decisivamente. “Quem é você?” disse ele, finalmente.
Eu sou o demônio que um dia morava no peito da Joia-Dama! Agora eu habito a Pedra da Morte para sempre!
O bom Genno ficou muito horrorizado por esta terrível confissão, mas, lembrando-se de seu dever como sacerdote, ele disse: “Apesar de você ter se afundado em maldades, você deve se elevar em virtude novamente. Pegue este manto sacerdotal e esta tigela de mendicância, e revele-me a sua forma de raposa”. Então, o espírito maligno chorou tristemente:

“À luz do brilhante dia,
Eu me escondia,
Como os pálidos fogos de Asama.
Com a noite eu devo voltar,
Minha culpa e minha dor confessar,
e puros desejos novamente manifestar”.

Com essas palavras, o espírito desapareceu de repente.
Genno não renunciou às suas boas intenções. Ele se esforçou mais do que nunca para a salvação dessa alma errante. A fim de que ela pudesse alcançar o Nirvana, ele ofereceu flores, queimou incenso e recitou as Escrituras Sagradas em frente à pedra.
Quando Genno terminou de realizar seus deveres religiosos, ele disse “Espírito da Pedra da Morte, eu te conjuro! O que em um antigo mundo te causou para assumir nesse uma forma tão desagradável?
De repente, a Pedra da Morte se abriu e o espírito mais uma vez apareceu, chorando:

“Há espíritos nas pedras.
E nas águas ouve-se uma voz:
Os ventos varrem todo o firmamento!”

Genno viu um clarão sobre ele e, na luz brilhante, uma raposa que repentinamente se transformou em uma linda donzela.
Assim falou o espírito da Pedra da Morte: “Eu sou aquele que antes, em Ind, era o demônio que o Príncipe Hazoku prestou homenagem… No Grande Cathay, eu tomava a forma de Hoji, a consorte do Imperador Iuwao, e na Corte do Sol Nascente eu me tornei a Indefectível Joia-Dama, concubina do Imperador Toba”.
O espírito confessou a Genno que, na forma de Joia-Dama, ela desejou trazer a destruição à linhagem imperial. “Eu já tinha”, disse o espírito, “feito meus planos, já regozijava-me sobre a morte do Mikado e, se não fosse pelo poder do Mago da Corte, eu teria tido sucesso. Como eu já lhe disse, eu fui expulsa da Corte. Eu fui perseguida por cachorros e flechas, e finalmente afundei cansada na Pedra da Morte. De tempos em tempos eu assombro o pântano. Agora o Senhor Buda teve compaixão de mim e me enviou seu sacerdote para me indicar o caminho da verdadeira religião e para trazer paz”.
A lenda termina com os seguintes enunciados piedosos proferidos pelo espírito agora contrito:

“’Eu juro, ó homem de Deus, eu juro’, esta ela a clamar,
‘a ti, cujas bênçãos me envias do céu,
eu faço esse juramento solene que deverá durar,
assim como a Pedra da Morte no pântano há,
que desta hora esta criança virtuosa sozinha está!’
Assim falou o ghoul, e debaixo da rocha ele desapareceu”.

obs:
 “A Pedra da Morte fica no pântano de Nasu
Através da neve do inverso e do calor do verão,
O musgo cresce cinza ao seu redor,
Mas o sórdido demônio ainda a assombra.

O frio sopra a ventania: o triste canto da coruja
Ressoa roucamente pelos pinheiros gementes;
Junto aos crisântemos,
A espreita da raposa, o chacal lamenta,
assim como a luz do outono sobre a lua declina”.

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